O Poeta e o número 13

Nova crônica do poeta António Paixão, Lisboa, 21 de outubro de 2022.

Diz-se que os poetas nada entendem de economia e nem tampouco de política. Trata-se de substancial erro de avaliação. Na realidade, ocorre o contrário: o poeta é quem mais entende de ambas atividades. Isso é devido simplesmente ao fato de que ninguém melhor do que poeta conhece a fome. O seu atento ouvido lírico capta o estridente, horripilante e penetrante grito famélico com muita clareza. A heroica luta do povo contra a fome não se dá em silêncio. Ouvem todos aqueles que querem escutar. O poeta a tudo ouve e reage com a pena no papel. Lembrem-se de Castro Alves e de Pablo Neruda!

A fome é, pela desumanização que enseja e pelos seus efeitos sociais desastrosos, a melhor equação de análise da economia, como também da política. Aí, não se trata apenas da luta contra a escravidão, pela liberdade, pela dignidade humana ou pela honra. Configura-se o combate à fome como a luta decisiva pela subsistência. Luta-se pela faculdade de viver. Apenas para viver. Trata-se de uma ação humilhante, horrível e vergonhosa. Não é uma luta pela liberdade, mas apenas pelo valor mais básico e fundamental de todos: a vida humana.

A fome de 33 milhões de pessoas, como ocorre no Brasil, configura para além de uma crise moral, um problema social, político e econômico. Moral porque não se pode aceitar a fome em larga escala; social porque o Estado existe para organizar o bem-estar social do povo de uma nação; político porque o faminto não é um cidadão pleno, por não ter condições objetivas de exercer os seus direitos; e econômico porque uma sociedade não pode atingir a prosperidade coletiva com a fome dos seus componentes.

A fome mata. A fome é cruel. A fome é desumana. A fome é obscena. A fome é consequência da ação das forças do mal. No Brasil, a fome é o produto das políticas fascistas do governo de Jair Bolsonaro, o Capetão de Coturno, e de seus asseclas e apaniguados. São todos eles corruptos e apenas interessados na prosperidade econômica de um pequeno núcleo de privilegiados, em detrimento da generalidade da população. Economicamente, o fascismo está apoiado em certos setores das classes empresariais e bancárias. Socialmente, o fenômeno tem o sustentáculo nos preconceitos da pequena burguesia urbana e na agrária. Politicamente, o fascismo encontrou uma formatação ideológica e organizacional no militarismo corporativista.

A persistir a ação fascista, o Brasil restará destruído. Um país com fome, com preconceito, com ódio, sem flora, sem fauna, sem democracia e sem vergonha é uma desgraçada nação sem futuro. É de se lembrar que a democracia significa igualdade dentro do estado de Direito. Um país sem democracia, com sua população faminta e pária na comunidade internacional não se sustenta no universo das nações. Em minhas andanças de uma longa vida como vate, malgrado minha constante busca lírica, tal como um Diógenes do Bexiga, eu ainda não encontrei uma única pessoa inteligente ou decente que apoie o regime de Jair Bolsonaro.

De fato, todos os intelectuais, de uma maneira geral, os professores, os escritores, os juristas, os médicos humanistas, da mesma forma que os trabalhadores e cidadãos honestos e decentes, repudiam o lamentável estado de coisas que se apresenta no Brasil. Por ele, no exterior, o País passou a ser execrado. Por outro lado, os apoiadores de Jair Bolsonaro são mulas sem cabeça, indigentes mentais ou mesmo pessoas insensíveis e desonestas, que buscam os seus melífluos objetivos com desinformação, manifestações de ódio ou com ações de corrupção. Eles se justificam uns aos outros, pelas mídias sociais, com a falácia de que, sem as pessoas que sofrem, não poderão os privilegiados gozar dos próprios bens e atingir a sua felicidade.

Quando o Papa diz que é uma vergonha jogar com a fome do povo, muitos dos católicos apenas nominais o denominam de comunista, assim como aos bispos e ao clero, de uma maneira geral. Contudo, no seu perverso, hipócrita e insensível modo de ser, continuam os bolsonaristas a postar material áudio visual das novenas que fazem e auto retratos que tiram durante as missas semanais, nas quais os ensinamentos de seu Deus são semanalmente confrontados com as ações do governo melífluo de seu líder.

Por tais motivos eu, como poeta, sinto-me com enorme autoridade moral de repudiar a candidatura de Jair Bolsonaro e todo o mal que ela representa. Diz-se em Nápoles que o número 13 é aquele da boa sorte. Esta crença é devido à data da morte de Santo Antônio, o protetor dos pobres, dos lares, das famílias, das crianças e das grávidas, no 13 de junho de 1231, aquela mesma em que ele subiu aos céus. Assim, o número 13 tornou-se um referencial de devoção em Nápoles, pelo bem que traz ao povo. Ele tem o mesmo significado no Brasil de hoje.
Eu voto Lula 13.