Os russos fraudaram as eleições brasileiras.

Novo conto do Poeta.

Era uma manhã de insuportável calor em Brasília. Não chovia há dias. Em consequência, havia secado o barro causado pelas últimas chuvas e um pó avermelhado penetrava os gabinetes do desgoverno federal. O presidente suava às bicas, principalmente depois do tiro de 15 metros na inauguração da pista de atletismo, no qual foi vencedor por uma larga barriga de vantagem contra os inexistentes concorrentes.

“Calor do carai, General Saúde”! disse o Presidente.
“Que tal um leite condensado com gelo, Presidente”?
“Boa ideia. Qual é o fuso horário de Marte, General Saúde”?
“Ignoro, Presidente. Não tenho certeza nem mesmo a respeito daquele de Brasília! Fico confuso com estas coisas. Minha especialidade é a logística aplicada às vantagens corporativas”.
“Eu sei. Estou muito puto com as más notícias, General Saúde”.
“E por quê, Presidente?”
“Primeiro porque o Supremo Tribunal Federal, aquele covil de esquerdopatas, abriu as conversas fora dos autos entre o juiz e os procuradores da Lava Jato, que se deixaram grampear por um haqueador de Araraquara. Araraquara, pasme você! Imagine se fosse uma potência estrangeira! Aparentemente, os diálogos demonstraram os embustes, as fraudes e os engodos praticados por aquelas antas e seus parceiros nacionais e internacionais”.
“De fato, Presidente”.
“Agora dizem que foi tudo uma fraude eleitoral, da qual eu me beneficiei pessoalmente! Mas não fui eu o primeiro a declarar solenemente que tivemos uma fraude nas eleições de 2018? Ninguém pode me acusar de feiqui nius, talquei”?
“Verdade, Presidente, sua sinceridade foi comovente”.
“Mais eu num tenhu nada a ver com isso, General Saúde. Foi culpa exclusiva dos russos”.
“Dos russos, Presidente”?
“Sim, General Saúde, dos russos de Curitiba. Outros da mesma nacionalidade já haviam interferido com as eleições dos EUA para levar o meu ídolo, amo, dono e senhor, Donald Trump, ao poder. Pena que, para o segundo mandato, os russos nada tenham feito. Agora os russos de Curitiba estão fodidos e os petralhas estão todos animados, a começar com a corja esquerdopata do Supremo Tribunal Federal”.
“É uma situação delicada, Presidente”.
“Exatamente, General Saúde. Devemos estar alertas e de prontidão. O cabo deve estar pronto e devidamente armado para fechar aquela espelunca fedida, assim que eu der a ordem”.
“Fique tranquilo, Presidente. O cabo está a postos e armado até os dentes com o tacape de última geração, feito de aroeira, orgulho tecnológico de nossas gloriosas forças armadas”.
“E os porões, General”?
“Os porões estão devidamente equipados em todas as capitais. Os paus de arara foram revistos e estão em ordem e funcionais. Usamos apenas o mogno dos últimos desmatamentos da Amazônia. Só não posso garantir a energia elétrica, porque não depende de nós, mas sim dos mercados”.
“E os manuais, General”?
“Os manuais de tortura já foram impressos e estão à disposição de todos, Presidente”.
“Muito bom. É o que nós fazemos melhor”.
“A impressão de manuais, Presidente”?
“Não, a tortura”.
“Ah, entendi”.
“General Saúde, tem mais”.
“Mais, Presidente? Que horror! Que fase”!
“Sim, está sendo alardeado pelas mídias sociais um relatório acadêmico feito com observações dos principais órgãos internacionais de imprensa, o qual dá conta que 92% das notícias sobre o Brasil do meu governo são ruins”!
“Apenas 92%? Mas não a diplomacia de nosso governo não queria tornar o Brasil um pária internacional”?
“Sim, General Saúde. Mais era quando tínhamos uma relação carnal passiva com os EUA do Donald Trump. Agora, tudo mudou. Os EUA têm um novo presidente, que é também ele um esquerdopata. Mundo cruel. Ficamos isolados e temos que reagir”.
“Será difícil com nossa agenda de governo, Presidente”.
“De fato, mais aqui também minha popularidade está caindo mais do que jaca madura. Isso traz sujeira e o cheiro não está bom”.
“Lamento, Presidente”.
“Ao menos no Brasil poderemos fazer algo, General Saúde”.
“Restabelecer o auxílio financeiro emergencial ao povo brasileiro durante os efeitos da pandemia, vacinar rapidamente toda a população e baratear a cesta básica”?
“Isso não poderemos fazer, General Saúde. O Posto Ipiranga diz que os mercados de capitais não irão gostar e que é melhor deixar o povo morrer de fome ou da doença. Segundo ele, trata-se de um controle populacional saudável e uma economia dos gastos públicos. Depois, o Posto Ipiranga está mais preocupado com a bolha da bolsa”.
“Entendi, Presidente. O quê então, poderemos fazer”?
“Vamos causar um impacto nacional e internacional, General Saúde”!
“Com o quê, Presidente”?
“Vamos distribuir chicletes de cloroquina para o povo, enquanto ele se diverte com o BBB”!
“Muito bem, Presidente”.
“Dispensado”.