Poema de Tony Malvern

Nota introdutória de António Paixão

Como é sabido, o meu aniversário cai no dia primeiro de maio e é celebrado internacionalmente con gusto pelas massas trabalhadoras, também por outros motivos. De quando em quando, recebo um poema de autoria do bardo inglês, Tony Malvern, para celebrar a ocasião. Ele é um notório mercenário da pena, de infame sovinice, a vender os seus versos para os tipos mais repugnantes sobre a face da terra, como os capitalistas, os banqueiros e os rentistas, todos ávidos por elogios. Como diziam os romanos, “pecuniae omnia parent”, ou o dinheiro a tudo governa, em minha tradução livre do latim.

O poema abaixo, escrito na língua inglesa, inculta e feia, chegou-me nesta semana pelo correio normal, entregue pelo nobre companheiro carteiro, em minha maloca no Bixiga. Infelizmente, eu estava desprevenido e não tive um copo de vinho tinto para lhe oferecer. O texto sofrível da soi-disant poesia não merece uma tradução para a bela língua portuguesa. Note-se, para prevenir responsabilidades, que a baixa qualidade dos versos deve ser atribuída única e exclusivamente ao seu autor, o execrável Tony Malvern. Ele é colega de pena, mas não amigo. Se o fosse, teria me enviado uma caixa de vinhos e usado o papel do poema para fins mais nobres.

HEAVENLY DRUNK BEFORE THE WALLS OF JERUSALEM

By Tony Malvern
dedicated to the bard António Paixão

He dreamt of being heavenly drunk,
with the familiar stench of a skunk,
dressed in white, the cross in red.
No longer lying on his bed,
but before the gates of Jerusalem.
He was thirsty after Bethlehem,
and cried: “I lead the life of a monk,
in a permanent state of drunk”.
Far away, the infidel said.
“you are more than dead.
Lay down your sword
and kneel before your lord”.
“Oh, Infidel, you go to hell.
Hurry up, you dirty swine;
go out and get me
some very good red wine”.
The friar could only think,
in the manner of a phantom:
“I would gladly give my kingdom.
For a full large bottle of plonk.
And quietly and sweetly settle as
a simple humble apostle.
I long for the life of a monk
in a permanent state of drunk”.